Cristiano Ronaldo sentou-se à mesa com Donald Trump, para um jantar na Casa Branca, dias depois de uma entrevista a Piers Morgan, em que cedeu grandes elogios ao presidente norte-americano, que considerou um exemplo, por ser uma pessoa que faz acontecer.

Dias depois, aí está Ronaldo na Casa Branca, na sequência de um encontro entre Trump e Mohammed Bin Salam, o príncipe herdeiro saudita e dono de, entre outros, o Al-Nassr, onde o português é a estrela maior. Ora, o jornalista Luís Cristóvão escreveu sobre o assunto, mas com muitas críticas à forma como o capitão da seleção portuguesa é introduzido nestes meandros políticos.
“Cristiano Ronaldo cumpriu ontem o sonho de visitar a Casa Branca, mas fê-lo na condição de brinquedo de dois filhos. Mohammed Bin Salam(MBS), Príncipe herdeiro da coroa saudita, utiliza os meios do seu país para engendrar um enorme investimento na área desportiva, com Cristiano Ronaldo a ser uma das sua joias. O capitão da seleção portuguesa trata por “Our Boss” uma figura que mandou executar um jornalista num país estrangeiro, entre outros tantos elementos que muito nos dizem de quem é MBS. Barron Trump, filho do Presidente dos Estados Unidos da América, foi ontem uma das crianças mais felizes do mundo. Porque na menção que o próprio Donald Trump faz do capitão da seleção portuguesa foi o facto de o ter apresentado ao filho que acabou por sublinhar. Esta secundarização de uma das grandes figuras do desporto mundial, no contexto em que aconteceu, não é uma surpresa para quem acompanha os dirigentes em causa. Mas marca um episódio particularmente negro no percurso de alguém que se vê e é visto como uma figura nacional”, começou por partilhar o jornalista, antes de especificar o facto de Ronaldo ter ido à Casa Branca como embaixador do desporto árabe e não como capitão de Portugal.

“A presença de Cristiano Ronaldo em Washington provocou uma reação em cadeia no nosso país. Roberto Martínez, com responsabilidades pelo cargo de ocupa, confundiu o teor da presença do capitão da seleção, relevando-o como embaixador de Portugal e do futebol português, quando Portugal não era tido nem achado no convite feito ao jogador para estar presente na Casa Branca. A dificuldade em entender a posição de Cristiano Ronaldo no quadro em que se inseriu neste dia é fruto de alguma redução das vistas em relação ao que acontece no mundo. A importância dos negócios entre Donald Trump e Mohammed bin Salman, bem como a postura pública de cada um, não deixa grande espaço para a existência de outras figuras ao mesmo plano. A secundarização de Cristiano Ronaldo existiu, mas foi combatida por cá através de indicações contraditórias que foram surgindo ao longo do dia. Estando contratualmente obrigado a ser embaixador da Arábia Saudita e das suas organizações desportivas, custa a entender que a sua presença, neste dia, tivesse sido feita à margem da presença de Bin Salman no edifício. O português colocou-se a jeito para ser um enfeite numa receção que, não podendo ter honras de estado (MBS é “apenas” príncipe herdeiro), beneficiou de uma encenação ao melhor gosto trumpiano”, lamentou Luís Cristóvão.

“A agenda da Casa Branca não tinha nenhuma referência à presença de Cristiano Ronaldo, todo o dia estava reservado para sucessivos encontros e reuniões com Mohammed Bin Salman e outros representantes sauditas. Ainda assim, pelos diretos televisivos de todos os canais noticiosos nacionais, alimentou-se ao longo da tarde a expetativa de termos Cristiano Ronaldo a ser recebido à porta por Donald Trump ou, mais tarde, a ser por ele acompanhado em algum corredor da Casa Branca. Quando outros já tinham desistido, a CMtv manteve em emissão um feed de uma porta onde vários convidados iam entrando, retificado com a sua célebre lupa, na esperança de ver o escalpe do jogador do Al Nassr. O que os meios demoraram a perceber é algo que já tinha referido logo de manhã. Ninguém faz sombra a Mohammed Bin Salam, tal como ninguém faz sombra a Donald Trump. E por muito que a nossa paixão pelo futebol de Cristiano Ronaldo nos tolde o pensamento no momento de o ver entrar no labirinto da política e dos negócios mundiais, a experiência e o conhecimento de causa (lembremo-nos de Luís Figo, por exemplo), aconselham-nos a encarar este tipo de transposições com um comprimido debaixo da língua.
No final das contas, a referência que Donald Trump fez de Cristiano Ronaldo, depois de se terem encontrado na antecâmara do jantar oficial, foi a gabar-se de o ter apresentado ao seu filho Barron. A indumentária de Cristiano Ronaldo, com as cores da Arábia Saudita em particular destaque, desfizeram quaisquer dúvidas sobre a quem se devia a sua presença na Casa Branca. Não ao seu particular talento, nem à sua infinita capacidade de trabalho, não ao génio do seu futebol, nem à capacidade de arregimentar seguidores pelas redes sociais, não à sua fabulosa história de vida, nem aos sucessos alcançados ao serviço da seleção portuguesa. Cristiano Ronaldo visitou ontem a Casa Branca porque é funcionário do estado da Arábia Saudita, um funcionário que, pela sua visibilidade, para além de jogar futebol e dar entrevistas a elogiar o país, também se vê obrigado a viajar, a meio de uma época desportiva, até ao outro lado do mundo para participar num jantar de gala onde o seu “Boss” está a fazer uma limpeza de imagem, pagando do bolso dos sauditas muitos milhões de dólares para ter o Presidente dos Estados Unidos da América a desmentir as investigações dos seus próprios serviços e a dá-lo como inocente de crimes que cometeu. No fim, saiu com uma selfie onde aparece com Elon Musk. Aqui chegados, não há como desviar o olhar das evidências que teremos que consultar para o futuro”, lamentou o jornalista português Luís Cristóvão