A manhã no Tribunal de Estarreja estava marcada para começar às 9h30, mas o que se previa uma sessão direta e objetiva acabou se transformando em um autêntico labirinto judicial. Foi só depois das 11h15 — quase duas horas de atraso — que começou o julgamento que está chamando a atenção de todo o país: o processo por difamação movido por Fernando Valente contra Filomena Silva, tia de Mônica, e Sara Silva, irmã gêmea da jovem conhecida como a grávida desaparecida da Murtosa.
Logo na chegada, o clima se mostrou mais tenso do que o esperado. A advogada pública de Filomena Silva apresentou atestado médico e não compareceu, deixando a ré sem representação legal. O tribunal foi assim obrigado a desencadear uma corrida contra o tempo para nomear sucessivamente três novos advogados. Porém, os dois primeiros recusaram assumir o caso, alegando incompatibilidade profissional, já que ambos tinham estado envolvidos em processos anteriores relacionados com a própria Filomena.
O impasse só foi resolvido quando o advogado de Sara Silva, já presente e preparado para a sessão, aceitou assumir também a defesa da tia de Mônica, permitindo finalmente avançar com o julgamento.
Em causa estão declarações feitas nas redes sociais e em entrevistas públicas, entre 2023 e 2024, onde Filomena e Sara Silva terão proferido afirmações consideradas altamente difamatórias para Fernando Valente — o homem que foi julgado e absolvido do homicídio de Mónica Silva, desaparecida desde outubro de 2023, num dos casos mais mediáticos dos últimos anos.
Segundo a acusação, as duas mulheres chegaram a chamar “assassino” a Fernando Valente, não só a ele, mas também aos pais, além de o acusarem de gerir uma boate e de tentar apagar provas relacionadas com o suposto crime. Alegações que, apesar de nunca terem sido provadas, foram amplamente partilhadas online, expondo Valente a um linchamento público que agora pretende ver reconhecido judicialmente.
Curiosamente, apesar do barulho midiático, as indenizações pedidas são simbólicas:
– 5.000 euros reclamados a Filomena Silva
– 1.000 euros pedidos a Sara Silva
Valores relativamente reduzidos, mas que não diminuem o peso dessa batalha judicial, marcada por atrasos, tensões, acusações cruzadas e a lembrança ainda viva de um dos desaparecimentos mais misteriosos e dolorosos do país.
O tribunal já marcou a próxima audiência para o dia 2 de outubro, mas com os sucessivos constrangimentos e a instabilidade na representação jurídica, ainda é difícil prever como — ou quando — esse processo avançará com normalidade.
Uma coisa é certa: cada novo capítulo desse caso mantém Portugal atento, dividido e profundamente intrigado.
